terça-feira, 6 de março de 2012

Morte

A maioria das pessoas que conheço vivem a vida como se nunca fossem morrer. Parece-me descabido e uma das principais razões pelas quais a infelicidade bate a tantas portas. Qer-se tudo menos viver...na verdade quer-se mais rejeitar a morte do que propriamente viver.

Se ao invés de fazermos de conta que nunca iremos embora desta terra, desta vida, deste corpo, desta rotina, desta monotonia, deste "tem que ser", deste fado, destas circunstãncias, destas responsabilidades, destes a fazeres, desta preocupação constante, desta necessidade constante, deste amontoar de coisas e de coisas assim.

Se passarmos a estar conscientes da iminente perda de vida a cada instante (de forma claramente positiva claro) teriamos em mãos mais e melhor capacidade de gestão do uso de nosso tempo, pouco tempo aqui nestas mesmas circunstâncias presentes. Primeiro, o passado desaparecia como algo importante para se remoer, porque estaria-se a perder tempo essencial em viver o presente com coisas que já não se podem mudar e se sabe que não se repetirão, pois o que foi não volta a ser. Segundo o futuro seria apenas os próximos segundos e talvez entretanto se houverem mesmo semanas, anos e meses, no momento como não se sabe se é segundos...viver-se-ia, sentir-se-ia, falar-se-ia, olhar-se-ia tudo e todas as coisas de uma forma sublime...única...rara...especial, porque efémera...porque subtil e milagrosa, uma oportunidade que não se pode perder, nem desperdiçar, nem estragar com preocupações e pressões e dúvidas e coisas assim também...

E se ao invés de fazer de conta que se vive para sempre, se ganhássemos a capacidade de fazer de conta que se morre daqui a nada! Fazer tudo o que se diz que se faria se se soubesse que se ía morrer amanhã! fazer isso...e depois no dia seguinte, já que não se morreu fazer outra vez tudo o possível, humanamente possível, mas sem estragar nada, porque afinal, pode não ser amanhã, pode ser mais além...pode até ser 50 anos depois...mas não se sabe e por isso, vive-se, cada momento...único, maravilhoso, com mais ou menos coisas...mas vive-se, esperneia-se, diz-se o que se pensa, o que se quer...ajuda-se, dá-se, mostra-se o melhor de nós, para algo ficar aqui que valha a pena quando o nosso arfar se desvanecer por entre uma brisa de vento quente, por entre a gélida fracção de segundo entre um batimento e outro...


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