segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

"É preciso desabafar, chorar, esvaziar o sentimento"

Dizem os psicanalistas e terapeutas de todo o género que estudam o cérebro humano e (indirectamente) o coração, que para ser saudável por dentro, temos de esvaziar o que lá está dentro.

Mas não afirmam como isso se faz. Como quebrar as barreiras construídas por anos e anos, muro atrás de muro, atrás de selva cheia de picos.

Simples, usando a melhor arma que «Deus» nos deu...a boca.

Pois é simples, mas nada fácil. Temos de nos tornar vulneráveis, aceitar que somos humanos, que na verdade não controlamos nada e continuamos no fundo a ser bebés acabamos de sair do ventre, aflitos por voltar para aquele lugar aconchegado, protegido, seguro e onde é impossível nos fazerem mal, não sofremos desgostos, onde não existem expectativas, nem outras pessoas (tirando os gémeos,  que explica muita coisa em mim) para nos roubar, enganar, ludibriar, mentir...trair.

Quem vai admitir, homem, mulher feita. Que às vezes nada de bom sai de suas acções porque se colocam num estado mental embrionário, é muito mais fácil culpar o mundo e os outros.

Permanecer ali naquele estado vegetativo de feto, mentalmente, ajuda a superar todo o mal do mundo. Também faz com que o corpo se mova, mas por dentro tudo seja oco. Máquinas ambulantes sem capacidade de dar de si, a menos que lhes seja pedido e mecanicamente se movimentam e fazem o esperado. Máquinas, perfeitas criadas da comunidade. Tudo é sim, Tudo é feito sem ser discutido. Tudo preparado sem sentir quase nada...Só assim alguma coisa inexplicável lá no intimo que até parecia bom.

Os sentimentos todos encapuçados dentro de uma redoma quente e protegida. Porquê falar? Se falar, é abrir uma brecha nessa redoma e daí vai entrar o que estamos a tentar fugir...E pior! Temos receio que vá começar a brotar tudo o que se tem vindo a arrumar ali, como se o liquido translúcido que inicialmente continha se tivesse transformado num viscoso e escuro fluído, cheio de tudo, tudo o que não dissemos, não enfrentamos, não choramos, nunca deixamos sair de dentro de nós pensando que esse seria o melhor a fazer ou se resolveria fingindo que nada aconteceu.

É assim que imagino a mente (ou há quem lhe chame coração) de muitas pessoas.
É isso que faz o medo às pessoas.

Isso não é viver...é sobreviver inerte e sem qualquer piada.


2 comentários:

Marisa disse...

Muitas vezes a questão nem é falar. Palavras leva-as o vento... o problema é passar muitas vezes para a acção!!! E não é assim tão fácil quanto isso... é preciso forma de vontade para sair dessa zona de conforto

Susana disse...

Gosto muito e estou totalmente de acordo Otília!! Beijinhos e obrigada por partilhares. =)